sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Em dia de Todos os Santos aldeia de Labrujó duplica de população

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Todos os anos, no primeiro dia de Novembro, uma das mais pequenas aldeias do Alto Minho duplica a população, com novos e velhos a rumarem ao cemitério para recordar os falecidos num ritual agora ameaçado.

Em Labrujó, Ponte de Lima, tudo é pequeno, desde os caminhos rurais à população, tendo em conta os actuais 130 habitantes que ainda resistem, no topo do monte, em pleno coração do Alto Minho.

Uma realidade que até na dimensão do cemitério, pequeno mas sem problemas de sobrelotação, se percebe facilmente.

«Temos perto de cem sepulturas, mas duas a três dezenas estão livres. Acho que nunca teremos problemas de lotação», contou o autarca de Labrujó, José Carlos Oliveira.

Enquanto isso, assiste a um dos dias mais movimentados no ano na aldeia, depois do Natal e da Páscoa.

«Nestes dias temos seguramente o dobro das pessoas por cá», explica, antevendo que com o fim do feriado de Todos os Santos esta tradicional visita ao cemitério passará a ser feita ao fim de semana.

Até porque, acrescenta, grande parte destas pessoas já residem fora da freguesia e do concelho de Ponte de Lima.

«Infelizmente, somos cada vez menos», desabafa, enquanto em pano de fundo há monte a perder de vista e cheiro ao «campo» no ar.

Para já, cumpriu-se o feriado pela última vez e José Carlos Oliveira, que até está a residir numa freguesia vizinha de Labrujó, também o assinala, visitando as sepulturas dos avós e bisavós.

«É um dia em que se sente saudade, tristeza e ao mesmo tempo, sendo católico, a esperança de que existe algo para além desta vida», explica, enquanto se apressa para a missa das 11h00, numa igreja que dista uns escassos cem metros do cemitério.

Ao lado, Teresa Moreira recorda, junto à sepultura dos pais, aquele que diz ser um dos dias «mais tristes» do ano. «Nunca falho este dia e nunca hei de falhar. Guardarei sempre que possível um dia de férias», conta, por entre os últimos retoques na campa e enquanto admite que o fim do feriado «vai custar».

«Mas temos todos que dar um bocadinho para levar o país para a frente», reconhece, algo conformada, antes de retomar a vista às restantes sepulturas de um cemitério em que, tal como na freguesia, todos se conhecem.

Em 2013, a aldeia será um pouco maior, dada a fusão, aprovada na Assembleia Municipal de Ponte de Lima, com as vizinhas freguesias de Vilar do Monte e Rendufe.

Ainda assim, o órgão que resultar desta fusão vai representar pouco mais de 400 habitantes. Em dia de despedida do feriado, Teresa Moreira, que em tempos até liderou a junta de Labrujó, já tem mais dúvidas em aceitar esta medida.

«Passaremos a ser um lugar, não concordo muito por que é diferente entender as necessidades de cada uma destas freguesias. Preferia a minha aldeia tal como está», admite.

Uma polémica que passa ao lado de Casimiro Sousa, que todos os anos «viaja» precisamente da vizinha aldeia de Rendufe para recordar os muitos familiares sepultados em Labrujó e que o «obrigam» a parar, para rezar, um pouco por todo o cemitério.

«Vamos ver, não sei como é que vamos fazer isso [fusão das freguesias], mas o cemitério, aqui e lá, não vai acabar, acho eu», brinca, embora reconhecendo que já com o fim do feriado será mais «difícil» a passagem por Labrujó, sobretudo se «entretanto» arranjar trabalho.

Já Custódia das Dores, uma ex-emigrante em Espanha que regressou à terra, nem quer ouvir falar no fim da sua freguesia. «Vejo isso muito mal», assume, garantindo que em Labrujó, seja na freguesia ou no cemitério, são todos «como uma família».

«Neste dia vamos às campas uns dos outros, para recordar os que morreram. No próximo ano vou fazer igualmente, como se fosse feriado», rematou.

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